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Negroesia

Cuti, autor e ator político e social

Moema Parente Augel*



A antologia Negroesia apresenta ao público um corpus de 84 poemas, selecionados pelo próprio autor que, dentre as centenas de títulos que constituem a sua produção poética, escolheu os de sua preferência, acrescentando ainda uma dezena de inéditos. Os títulos das quatro partes em que se divide a coletânea deixam entrever a temática enfeixada em cada uma: Cochicho, Aluvião, Chamego, Axé.

Cuti é um escritor de muitas faces, com nove livros** individuais, além de participação em várias obras conjuntas. Navega à vontade tanto nas águas da poesia como da ficção, do teatro, do ensaio, da literatura juvenil, sendo uma voz expressiva da moderna literatura brasileira e um dos principais representantes do discurso afro-brasileiro contemporâneo.

Cuti, em sua obra, repensa a condição do afro-brasileiro, imprimindo a essa reflexão um conteúdo de contestação, questionando o lugar do negro na sociedade brasileira,, recolocando-o numa perspectiva a partir da tomada de consciência de si e de sua biografia coletiva. A poesia de Cuti é um importante instrumento no processo de conscientização e de resgate não só cultural, mas sobretudo moral dos afro-descendentes.

Em Negroesia vamos encontrar uma polifonia de sons transmitindo diferentes "formas de dizer não" (para utilizar uma expressão de Abdias do Nascimento nos Cadernos Negros nº 22), mas também muitas formas de "dizer sim", sempre atento ao seu "tesouro intacto": sim ao compromisso com sua ancestralidade, com seu tempo e com o futuro, sim ao sagrado, sim à certeza altiva de seus valores, sim ao humor e ao amor.

Nessa sinfonia de muitos instrumentos e de muitos recursos, estamos diante de versos ora evocativos do passado traumatizante, lembrando que "a palavra negro tem chaga tem chega!", ora provocativos ou cáusticos, conspirando "com a palavra proibida", ora sensuais ou eróticos, plenos de "paixão e volúpia". Versos líricos, lúdicos, lúcidos; versos-cochichos de ternura e sensualidade, também versos-aluviões de denúncia e revolta, cobrando "o leite derramado", encarando a realidade pós-colonial em que o racismo jamais "será ético". Em alguns momentos, ouve-se o rumor de um punho fechado, em outros, o arfar do desejo, ou murmúrios que traduzem o sagrado ou ainda a cascata de uma risada bem humorada ou o sorriso fino, pleno de ironia ou sarcasmo. E, no decorrer desses 84 poemas, Cuti, mantendo sempre vibrante a lira da subjetividade sincera e participante, sempre presente a via criativa, original e irreverente, surpreende com inesperados neologismos, como o próprio título da coletânea anuncia.



* Universidade de Bielefeld

(Alemanha)

** Em 2013 somam-se 18 títulos de obras individuais.





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Escritor

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